sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

JUSTIÇA, PAZ E VITÓRIA !!!

Dr. Christoff Lehmann - 23/12/2011

Muito tempo atrás era possível informar sobre a guerra na Líbia, que foi uma guerra de agressão e conquista por uma aliança imperial. Agora a situação tornou-se uma série muito mais complexa de conflitos sem linha de frente definida, com alianças voláteis, e como é típico neste tipo de conflito, com terceiros que lucram com as divisões internas.

Ontem um grande grupo de manifestantes saiu às ruas de Bengazi, covil do chamado Governo de Transição (CNT) e bastião da Al-Qaeda, exigindo a retirada imediata de todos os combatentes estrangeiros. A população de Bengazi é aterrorizada diariamente por estrangeiros da Al-Qaeda e do Talibã, e por outros mercenários. Os manifestantes também e especificamente exigiram que Mustapha Abdel Jalil deixe Bengazi e a Líbia e que todos os combatentes estrangeiros se vão, inclusive os das tropas da aliança de 13 nações que  foram convidados para o país pelo CNT. A manifestação foi atacada e dispersada a tiros. Não há relato de vítimas disponível.

Cerca da meia-noite, Tajoura, em Tripoli, foi acordada por violentos confrontos entre combatentes da Resistência Líbia e do chamado Novo Exército Líbio sob o comando do Abdelhakim Belhadj (brigadas de Trípoli). Combates também irromperam em Bani Walid e outras cidades da Líbia.

De acordo com relatos não confirmados, até agora 200 combatentes líbios (ratos [NdoT]) que haviam sido infiltrados na Síria foram mortos pelas forças militares sírias. A OTAN está treinando na Líbia os insurgentes utilizados para a desestabilização da Síria, sob a supervisão de Abdelhakim Belhadj.

A situação de Saif al Islam-Ghadafi permanece incerta, uma vez que ele não pode falar livremente em seu nome. Enquanto Saif não puder falar livremente sobre si mesmo e sua situação, ele deve ser considerado em perigo, e como mantido preso ilegalmente.

A disputa sobre o destino e o status de Muammar Ghadafi continua, certamente para grande alívio de seus inimigos. Discutindo se Muammar Ghadafi foi assassinado ou não, perde-se uma grande quantidade de energia que poderia ser utilizada para impetrar uma ação judicial contra a OTAN. Se Muammar Ghadafi está vivo e bem, como relatado por alguns, então outra pessoa foi brutalmente e ilegalmente assassinada pela OTAN, e foi cometido um crime que precisa ser processado. Se Muammar Ghadafi foi assassinado, isso também tem que ser processado.

Apesar das exigências da Rússia de investigação plena dos crimes de guerra cometidos na Líbia, é discutível que o TPI (ICC) seja uma instituição apta a investigar ou julgar. Como parte das Nações Unidas, e na sequência da resolução de 1973 do  Conselho de Segurança das Nações Unidas, que foi utilizado pela OTAN para justificar a agressão militar, a ONU, e portanto o ICC, são implicitamente parte do conflito e de nenhuma maneira imparciais.

A situação humanitária na Líbia permanece desastrosa, com a falta generalizada de alimentos básicos e remédios, energia elétrica e abastecimento de água instáveis. As escolas e instalações educacionais do país permanecem fechadas ou funcionam em um nível mínimo de atividade. Os líbios informaram ao nsnbc grande número de crianças que sofrem de trauma psicológico. As famílias estão desestabilizadas, e a internalização do conflito resulta em dificuldades na resolução de problemas em nível individual, familiar e da comunidade. Mesmo que muitos indivíduos e organizações estejam dispostos a ajudar os líbios com o estabelecimento de instalações de aconselhamento familiar, a situação na Líbia permanece, por enquanto, demasiado instável e perigosa.

Até agora a União Africana, bem como o Parlamento Pan-Africano, que têm registrado extensamente crimes de guerra, limpeza étnica e genocídio de negros líbios e trabalhadores imigrantes africanos, permanecem passivos e silenciosos.

Para o cidadão comum da Líbia que foi pego no conflito e resiste à agressão imperialista e seus capangas, acredito que posso dizer em nome de nsnbc e de seus leitores: "desejamos-lhe justiça, paz e vitória".

http://nsnbc.wordpress.com/2011/12/23/libya-a-brief-situation-report-before-the-holidays/

(Em um artigo anterior, o dr. Christoff Lehmann considera a possibilidade de Saif Al Islam ser levado a julgamento pelo TPI. Compara-o ao infeliz condenado a pagar pensão para uma criança cujo DNA não coincide com o seu, com todo mundo sabendo que a mãe é estuprada constantemente e há muito tempo pelo juiz e pelo promotor)



PRESENTE DA VILA VUDU:


Stratfor contesta narrativa sobre a Síria

19/12/2011, Sharmine Narwani, Huffington Post (Blogs)

http://www.huffingtonpost.com/sharmine-narwani/stratfor-challenges-narra_b_1158710.html?ref=tw

“– Na mídia brasileira, ninguém contesta é poooooooooorra nenhuma.
É só repetição de matérias de agências norte-americanas,
tudo igual, tudo igual, tudo igual...”

“– Mas será que o William Waack ou o Merval Pereira

algum dia ouviram falar de Instituto Stratfor?!”
 

[entreouvido na Vila Vudu]

Desde que eclodiram as manifestações públicas na Síria, em março passado, as narrativas sobre a crise síria Só fazem repetir o tema das demais revoltas árabes. Um governante autoritário que esmaga oposição pacífica que se levanta contra seu governo e abre fogo contra civis, e o número de manifestantes cresce, e cresce também o número de cadáveres...

Mas entramos agora no nono mês desse conflito particularmente violento – nem a Líbia, com guerra civil declarada, demorou tanto. O que está acontecendo?

Segundo o instituto Stratfor, com sede no Texas e especializado em análise de risco geopolítico, que, semana passada, distribuiu devastadora crítica dos esforços de propaganda da oposição síria, “a maioria das denúncias mais sérias da oposição síria não passam de exagero grosseiro ou são simplesmente falsas, o que revela muito mais sobre a fraqueza da oposição, do que sobre o real nível de instabilidade dentro do regime sírio”.[1]

É evento importante por duas razões. Primeiro, porque é a primeira vez que empresa de inteligência com sede nos EUA contesta abertamente a narrativa dominante sobre o caso sírio. Segundo, porque, ante os dados reunidos pelo Instituto Stratfor, somos obrigados a nos perguntar: em que, afinal, os EUA baseiam suas iniciativas políticas, se todos os nossos pressupostos de informação são falsos?

A Síria, afinal, é ou não é “instável”? Que importância como representação de algum desejo de alguma maioria tem (teria) a oposição ao regime de Bashar al-Assad? O número de mortos que todos os dias nos é informado e que tanta revolta provoca, é número confiável? Significa alguma coisa? Quem está matando quem? Como se podem confirmar os números e as notícias incansavelmente repetidas? Os manifestantes locais são capazes de discernir entre um manifestante pró-regime civil morto e um morto civil anti-governo – sobretudo se se sabe que os dois lados estão armados e atirando?

Não tenho meios nem para desmentir nem para confirmar as informações que são distribuídas e nem tentarei. Mas pergunto: de onde vêm todos esses ‘fatos’?

As informações sobre a Síria são viciadas?

Informação colhida de grupos de oposição não são confiáveis por definição, porque às oposições sempre interessa divulgar dados “benéficos” e ocultar as estatísticas “que não ajudam”.  E a mesma dinâmica aplica-se ao governo, motivo pelo qual tantos suspeitam sempre do que diga o governo sírio.

Mas ninguém vê a oposição síria dando divulgação democrática ao número de soldados regulares do exército sírio mortos, por exemplo – exceto para dizer que haveria soldados desertores, e que estariam sendo assassinados. Nesse momento, o Twitter zune com notícias (muitas delas apenas repetidas), segundo as quais, mais de 70 dos mais de 100 mortos de hoje seriam “desertores”.

Tampouco se ouve qualquer informação sobre o número de civis pró-regime mortos pela oposição armada – muitos dos quais mortos ao se manifestarem a favor do regime sírio.

Nada disso, é claro, significa que a oposição síria minta para ganhar a simpatia e o apoio internacional – sobretudo porque a “oposição” não é homogênea e tem várias caras, propostas, poderes e ambições.

Mas o Instituto Strafor questiona diretamente o objetivo de alguns daqueles grupos, baseado em provas recolhidas de campanhas de desinformação:

O artigo de Stratfor foca-se, basicamente, nos esforços da oposição síria para dar a impressão de que, nas últimas semanas, estaria havendo grave divisão dentro do próprio clã do presidente Assad e dentro da minoria alawita, fé professada por vários dos mais altos comandantes das forças armadas sírias e líderes políticos do governo.

Dentre as mentiras já identificadas, está matéria datada de 10/12, segundo a qual “o vice-ministro da Defesa da Síria e ex-chefe da inteligência militar Asef Shawkat foi assassinado por um assessor e ex-chefe da Segurança, general Ali Mamlouk.”

É notícia falsa, segundo Stratfor, divulgada para criar “uma falsa imagem de que dois sunitas, com altos postos no governo, estar-se-iam matando a tiros”, e que alimenta “uma narrativa que ajuda alguns grupos, dedicados a minar a ideia de que o governo de Assad mantém-se coeso na determinação de conter a oposição armada e salvar o regime sírio”.

Outro exemplo, do dia 9/12, o jornal  *Asharq al Awsat*, de propriedade de sauditas, publicou declaração de uma até então desconhecida “Liga Alawita de Comitês de Coordenação”, autoapresentada como representante da comunidade alawita síria, e que “rejeita qualquer tentativa de culpar os alawitas pelo ‘barbarismo’ do regime Assad”. Na avaliação do Instituto Stratfor, a notícia ‘plantada’ dá “a impressão de que a comunidade alawita estaria dividida e que o regime de Assad estaria perdendo o apoio dentro de sua própria comunidade religiosa”.

O Instituto Stradfor cita fontes suas, dentro da oposição síria, que “confirmaram que aquela Liga Alawita de Comitês de Coordenação não existe e não passa de ficção inventada pela oposição sunita na Síria”.

No mesmo dia, outros grupos da oposição, entre os quais o Conselho Nacional Sírio, o Exército Sírio Livre e o Observatório de Direitos Humanos na Síria (que tem sede em Londres) começaram a distribuir ‘notícias’ segundo as quais “forças do governo sírio sitiaram Homs e impuseram prazo de 72 hs para que os desertores do exército sírio entregassem as armas, ou seriam massacrados.”

Essas notícias apareceram em manchetes de jornais e televisões em todo o mundo – porque Homs é o centro da oposição ao regime, onde o número de mortos parece ser maior que em outras cidades. Mas investigações feitas pelo Instituto Stratfor descobriram que “não há sinais de massacre”. E o Instituto alerta que “forças da oposição a Assad têm interesse em difundir a fantasia de que haveria risco de massacre, na tentativa de criar quadro semelhante ao que levou a uma intervenção militar estrangeira na Líbia”.

O Instituto lembra que não há risco de massacres na Síria, ou que, no mínimo, são altamente improváveis, porque “o regime sírio trabalha exatamente para evitar esse tipo de cenário. As forças legais na Síria”, diz o Instituto Stratford, “têm sido muito cautelosas para evitar altos números de mortos, que pudessem levar a qualquer tipo de intervenção baseada em critérios humanitários.”  E por aí vai.

Narrativas falsas, sem qualquer fundamento, turvam as águas

Stratfor identifica alguns objetivos evidentes que dirigem os esforços de propaganda dos grupos de oposição síria:

– Convencer os sírios dentro da Síria (e não só a maioria sunita, mas também outras minorias que, até agora, se mantêm firmemente a favor do governo), de que o regime estaria dividido, sem força e que de nada serviria continuar a apoiá-lo.

– Convencer apoiadores externos da oposição, como os EUA, a Turquia e a França, de que o regime está fragilizado, a ponto de cometer massacres para conter os protestos, como acontecia em 1982, em Hama.

– Convencer todos, os sírios e apoiadores externos da oposição, de que o colapso do governo de Assad não gerará o mesmo nível de instabilidade que se viu no Iraque, ao longo de quase uma década, nem levará ao surgimento de milícias islâmicas como parece já estar acontecendo na Líbia. Com esse objetivo, o Exército Síria Livre tem dado destaque a operações de defesa de civis, para não ser rotulado como milícias golpistas. Simultaneamente, a oposição política tem repetido que deseja preservar intactas as estruturas do governo, de modo a evitar o cenário que se tem no Iraque, onde hoje é necessário reconstruir o estado, que foi completamente destruído, e o país já enfrenta guerra sectária.

Stratfor chama a atenção para a facilidade com que o discurso dos grupos de oposição na Síria chegam rapidamente às manchetes da imprensa ocidental, e que esses veículos repetem com regularidade “dados distribuídos pelo Observatório de Direitos Humanos na Síria, apesar de nenhum daqueles dados poder ser confirmado.” Mas o Instituto Stratfor também alerta que “a falta de coordenação entre os veículos de distribuição de informação da oposição na Síria, e a nenhuma confiabilidade dos dados que são distribuídos já está minando a credibilidade da própria oposição como um todo.”

Hoje, o presidente Assad da Síria assinou o protocolo da Liga Árabe, autorizando a visita de uma missão de investigação. Se se conseguir que esse importante processo não seja sequestrado nas malhas da política regional – risco que não se deve descartar, apesar das boas intenções – é possível que, doravante, possamos afinal começar a conhecer o que realmente acontece hoje na Síria.

Sem rigorosa atenção à apuração dos fatos, é baixa a probabilidade de que os dois lados que se enfrentam na Síria consigam superar suas diferenças e rancores. Falsas narrativas, incansavelmente repetidas sem qualquer atenção à verificação e à confirmação das notícias, servem só para manter aceso o conflito.

[1] 14/12/2011, “Missteps in the Syrian Opposition's Propaganda Effort”, em http://www.stratfor.com/memberships/205829/analysis/20111213-missteps-syrian-oppositions-propaganda-effort

Parabéns ao Instituto Stratfor por chamar a atenção para a importância de produzirmos melhor jornalismo e informação mais confiável e transparente. (Vila Vudu)

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