terça-feira, 3 de julho de 2012

OS RUSSOS E A SÍRIA - 2

Veronika-Krasheninnikova, Diretora Geral do Instituto de Pesquisas e Iniciativas em Política Externa - Moscou

RT (Russia Today)

A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, insiste em que o princípio do "mútuo consentimento" em que o "governo de transição" da Síria deve basear-se, significa que o presidente Assad tem que ir embora. O Ministro dos Negócios Estrangeiros russo Sergey Lavrov, pelo contrário, insiste em que a formação de um "governo de transição" será feita em uma base inclusiva.

Antes de discutir o que isso significa, vamos parar por um segundo para entender um simples fato: cinco potências estrangeiras se reuniram para decidir o destino de um país, na ausência de seu líder e de seu povo, que nunca pediram que eles fizessem alguma coisa desse tipo, muito menos deram-lhes qualquer mandato. Isto é uma violação escandalosa do direito internacional. E o que é ainda mais escandaloso é que ninguém se preocupa ou até mesmo fala sobre isso.

Agora, o texto do comunicado final, por insistência russa, não conclama explicitamente à destituição de Assad, mas diz que o novo governo "deve ser formado com base no consentimento mútuo". A Rússia e a China entendem esta fórmula, segundo seus representantes, como significando que o presidente Assad é parte do processo.

Mas ouça como o autor do novo plano, o ex-Secretário Geral da ONU Kofi Annan, a interpreta: "O governo terá de reformar-se por discussão, negociação e por mútuo consentimento, e eu duvido que os sírios que tanto lutaram pela sua independência... quererão escolher pessoas com sangue nas mãos para conduzi-los". O Ministro Fabius, dos Negócios Estrangeiros francês, em uma surpreendente continuação da fidelidade de Sarkozy a Washington, soletra-o ainda mais claramente: "Mesmo que [Rússia e China] digam o contrário, o fato é que o texto... significa que Bashar al-Assad não ficará. A oposição nunca vai concordar com isso, o que indica implicitamente que Assad tem que ir e que ele está acabado", disse Fabius à emissora de televisão TF1.

Soa como se Washington tivesse encontrado a solução final para Bashar Al-Assad: um "Governo de transição" baseado em "mútuo consentimento" será para a Síria o que a "zona de exclusão aérea" foi para a Líbia: Enquanto uma pessoa normal entende o termo "zona de exclusão aérea" como uma área que as aeronaves não podem sobrevoar, Washington redefiniu o termo com mais de 30.000 missões de caças-bombardeiros e vôos de reconhecimento da OTAN.

No caso da Síria, pelo acordo de Genebra, Washington lançou a fase final da remoção do presidente Assad. E novamente como na Líbia, a "mudança de regime" será realizada com o pleno acordo dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU!

O elemento mais chocante é que a Rússia parece ter caído novamente na armadilha do Washington. Apesar de todas as declarações de direito e todos os esforços, no final do dia, no entanto, a Rússia assinou um acordo tácito para abandonar a Síria, semelhante à abstenção ao votar a "no-fly zone" para a Líbia, que permitiu a Washington lançar os seus ataques.

Algumas palavras precisam ser ditas sobre o papel de Kofi Annan no processo, que descobriu uma abordagem mais tática dos negócios de "mudança de regime" da América. Comparado com o comportamento de "bad cop" da administração dos EUA, o diplomata de origem queniana elegantemente vestido, com sua voz de seda, serviu como uma perfeita figura do "good cop" amante da paz. [*]

Em fevereiro de 2012, quando o governo sírio estava prestes a neutralizar a insurreição armada no seu país por terroristas ilegalmente armados e treinados pelos Estados Unidos e seus aliados, Annan veio com um "plano de paz de 6 pontos" que exigia das tropas governamentais o "imediato regresso" ao quartel, enquanto os terroristas tinham apenas que "comprometer-se a parar de lutar". Na verdade, o plano Annan deu tempo para armar e treinar insurgentes, para construir as suas capacidades terroristas, enquanto preparava o apoio do público ocidental para a guerra.

Em preparação para conversações de Genebra, Kofi Annan aparece com mais um "plano de paz", que promove a próxima fase da derrubada do presidente Al-Assad: um "Governo de unidade nacional" deve ser criado, que "poderia incluir membros do atual governo e da oposição e outros grupos" com exceção daqueles "cuja presença e participação continuada poriam em causa a credibilidade da transição e comprometeriam a estabilidade e a reconciliação". Assim, na visão de  Annan/EUA, os assassinos que perpetraram o massacre de Houla têm direito de fazer parte do governo, mas o único líder democraticamente eleito do país não tem.

Como se isso não bastasse, o "plano de paz" Annan No. 2 requer imediatas "eleições multipartidárias livres e justas", que, como mostrou a metodologia das "revoluções coloridas", são o ambiente mais prático para derrubar um governo e solidificar os ganhos da "oposição". [**]

O objetivo imediato dos EUA ao desestabilizar a Síria é avançar a frente de combate contra o Irã. Nesse sentido, as operações na Síria estão a decorrer em conjunto com o engajamento do Azerbaijão na fronteira norte do Irã.

Para a Rússia, ter caído mais uma vez na armadilha de Washington terá graves conseqüências. Na arena internacional, Moscou perde preciosa credibilidade junto a seus aliados estratégicos, o Irã em particular. Geopoliticamente, a queda da Síria irá acelerar a expansão inexorável dos EUA em todo o Oriente Médio, até ao Cáucaso e a Ásia Central, consolidando sua infra-estrutura na frente militar sul da Rússia e colocando um fim definitivo às perspectivas da União Euro-Asiática.

Essas perdas dificilmente, ou nunca, serão recuperáveis.

[*] Em alguns filmes policiais americanos, interrogatórios são conduzidos por 2 policiais alternados, um "mau" (bad cop), que ameaça o suspeito, e um "bom" (good cop) que finge solidarizar-se com ele [NT].
[**] "Revoluções coloridas" promovidas por ONGs ligadas ao governo dos EUA, derrubaram os governos da Geórgia (movimento CMARA! - "basta!") e de outros países. Felizmente fracassaram no Irã, no Brasil ("CANSEI!", "Movimento pelos Direitos dos Brasileiros", "Movimento contra a Corrupção")...

http://nsnbc.wordpress.com/2012/07/03/washingtons-road-to-iran-goes-through-syria/



Thierry Meyssan pergunta em qual versão das notícias sobre a Síria você confia


"Na manhã de quarta-feira 27 de junho um grupo de homens armados lançou um ataque contra a sede do canal de televisão Al-Akhbariya, na Síria, matando sete funcionários, seqüestrando outros e destruindo as instalações.

A Rede Voltaire conseguiu ir lá e se encontrar com o pessoal da Al-Akhbariya para observar o estrago que foi feito.

Desde o início da tentativa de desestabilizar a Síria, 15 meses atrás, vários jornalistas sírios foram atacados, seqüestrados ou mortos pelo 'Exército Síria Livre' (os 'rebeldes')."



LÍBIA

SALAFISTAS DESTRÓEM CARTÓRIO ELEITORAL EM BENGAZI


http://www.leonorenlibia.com/index.php?option=com_content&view=article&id=1270:pavel-informa-02072012&catid=10:catcron


SIRTE (sem legendas)

http://www.youtube.com/user/mousa1117







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