No domingo, 27 de maio de 2018, o município indígena Purépecha de Cherán, Michoacán, México, nomeou seu terceiro Conselho de Anciãos (Consejo Mayor, Consejo de Keris) para o seu governo comunal.
Cherán pratica uma forma tradicional de autogoverno há sete anos. No início deste ano, em 15 de abril de 2018, a comunidade comemorou o aniversário de sete anos de sua revolta contra o que todos chamam hoje de “governo do narcotráfico”.
O governo do narcotráfico incluía uma grande variedade de personagens. Bandidos de cartéis ou “sicarios” trabalhando ao lado de madeireiros ilegais que conspiraram para violentar as florestas de Cherán e qualquer um que estivesse em seu caminho. Cherán perdeu mais de 50 membros da comunidade entre 2007 e 2011. Muitos deles simplesmente desapareceram, para nunca mais serem vistos novamente.
Quando Cherán se levantou, o prefeito local, seu gabinete e toda a polícia local fugiram da comunidade e deixaram os membros da comunidade se defenderem sozinhos. Este e muitos outros detalhes que viriam à luz durante os primeiros meses da revolta expuseram a conivência dos políticos locais e da polícia com o crime organizado e a ilícita e muito violenta atividade madeireira.
Quando Cherán se levantou, mais de 300 barricadas de acampamento foram erguidas nos cruzamentos por toda a comunidade. Cinco pontos de verificação adicionais foram estabelecidos nas estradas à entrada da comunidade. Quando a polícia fugiu de Cherán, também deixou suas armas, uniformes e veículos no quartel da polícia. A comunidade recuperou todos esses elementos para estabelecer sua "ronda comunitaria", ou guarda comunitária.
Todos os serviços de telefonia celular, de televisão e de rádio foram desligados imediatamente após a insurreição. Cherán foi desconectado do resto do mundo.
Foi nessa época que um dos elementos mais surpreendentes do levante passou a funcionar todas as noites: as “fogatas” ou barricadas de fogueiras. Mais uma vez, 300 dessas barricadas foram erguidas em toda a comunidade para fins de segurança, mas também se tornaram pontos de encontro principais e a base para o processo de tomada de decisão coletiva que Cherán estabeleceu na época e pratica até hoje.
Cada fogata pertence a um dos quatro bairros de Cherán: 1º bairro ou Karhákua, 2º bairro ou Jarhukutini, 3º bairro ou Ketsikua e 4º bairro ou Paríkutini, também conhecido como Paris. As fogatas se reuniam todas as noites durante a revolta. Cada fogata enviava propostas e um representante para as assembleias de bairro, e depois para assembleias comunitárias. O elemento fogata do governo comunal em Cheran foi o único novo elemento. As assembleias de bairro e a assembléia geral mais ampla fazem parte das formas tradicionais de autogovernança que Cherán praticava até 40 anos atrás, antes que partidos políticos e formas institucionais de governo chegassem à comunidade.
Nas assembléias gerais, a comunidade de Cherán chegou a um consenso sobre o retorno à sua forma tradicional de autogovernança, que também incluía o estabelecimento de conselhos de governo. Este curta-metragem documenta a nomeação do terceiro Conselho de Anciãos de Cherán, um processo que ocorre a cada três anos. Essa nomeação marca o sétimo ano de autogovernança na comunidade.
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